A crise do Antigo Regime e a formação de uma nova ordem social.
Por Nilson Pereira.
A crise do Antigo Regime é o contexto geral do período pré- Revolução Francesa, conforme destaca brilhantemente o historiador Carlos Guiherme Motta em seu livro: 1789-1799- A Revolução Francesa.
Desde a Idade Média, a Europa Ocidental vem sofrendo um processo gradual de urbanização quanto a sua população, concentrando assim de forma lenta, um aglomerado maior de pessoas nas grandes cidades européias, gerando assim novos grupos sociais, como a burguesia e o que na França se chamavam san-culottes (plebe urbana), dentre outras.
Estas novas classes sociais não encontravam espaço dentro do Antigo Regime, em uma sociedade estratificada, composta por três ordens, herança medieval e que se perdura durante a Idade Moderna.
Esta sociedade, característica do Antigo Regime, se dividia na seguinte forma:
Oratores: Cléricos cuja função era manter o mundo ocidental ''pacificado'' com Deus, através de orações, uma função espiritualista e tida como a mais importante dentre todas nesta sociedade);
Bellatores: Eram a chamada nobreza de sangue. Originalmente os que tinham a função de guerrear, sentido que vai se perdendo em parte durante a Idade Moderna. Tinham a função também de exercer e manter o governo secular na sociedade. Desta ordem partem os reis, que na Idade Moderna, passam a ser considerados também, governantes por direito divino, representantes de Deus na Terra, 13° apóstolo de Cristo, na figura de seus ''dois corpos''(um místico e eterno, e o outro físico e mortal);
Laborattores: Responsáveis pelo chamado ''mundo dos trabalhos'', a base da pirâmide social na sociedade do Antigo Regime. Surgem daqui, os burgueses como um todo, assim como os sans-culottes, assim como os camponeses rurais, que já originalmente compunham esta ordem);
O Antigo Regime, sempre foi dotado de fortes contradições entre a teoria e prática, desde a Idade Média, e sobretudo nas tranformações que marcam a Idade Moderna.
A plebe urbana e a burguesia se consolidam cada vez mais como classes sociais, durante a modernidade, não consegue ascender socialmente, pois a base da sociedade do Antigo Regime era o status quo, oriundo do nascimento e escolha divina, e também não conseguiam se enquadrar, se achar dentro do Regime vigente na época, no discursso das três ordens.
A França, como reino, passa também por uma forte crise econômica no fim do século XVIII, sua agricultura era pobre e deficitária, as guerras se colocavam de forma onerosa demais, e o processo histórico que leva à independência dos Estados Unidos da América, que teve o apoio fundamental do Reino da França, faz com que os cofres reais se esvaziem consideravelmente.
A plebe, maior parte da população, passa fome, está cada vez mais insatisfeita com os governantes, cansada pela humilhação na qual é submetida por séculos por nobreza e realeza, pois eram os laborattores, conforme já explicado anteriormente.
Os burgueses estavam insatisfeitos porque mesmo enrriquecendo, mantinham-se sendo considerados inferiores perante nobres e realeza devido a estratificação social francesa que era muito mais rígida em comparação a outras regiões européias, o que tornava muito difícil uma ascenção social.
Ambos, burguesia e sans-culottes, sentiam-se lesados por conta de cobranças de impostos cada vez mais rígidas por parte da coroa francesa, como tentativa de sanar o esvaziamento dos cofres reais, na qual o reino estava submetido.
O feudalismo ainda existia dentro desta sociedade, embora radicalmente enfraquecido se comparado ao auge deste sistema econômico na Idade Média. Assim também, a servidão, porém, as obrigações de um servo em relação à nobreza, mantinham-se firmes.
O servo na França, não era submetido à corvéia( que consistia no pagamento de taxas através da força de trabalho), pagava seus impostos através de moedas ou de produtos.
Dentro deste contexto, que era caótico, miséria popular, descontentamento da burguesia fomentavam uma revolução. O luxo do palácio de Versalhes soava como uma espécie de deboche a situação, sobretudo em relação a miserável condição dos mais pobres.
Luís XVI, rei da França, herdeiro da dinastia dos Bourbons, exige que os nobres também passem a pagar impostos a coroa devido à crise econômica, o que põe a nobreza, até então, principal aliada da coroa, insatisfeita com seu governo também.
Os nobres franceses vão evocar os Estados Gerais, cujo faziam décadas que não eram convocados, para tentar manter seus privilégios. Os burgueses não então, em um primeiro momento, criar dentro da Assembléia constituída, uma 3° câmara, e depois, em um segundo momento, uma vez percebido pela classe que a única intenção que cercavam nobres e clero era de manter seus privilégios e não de resolver as questões de miséria popular ou estratificação onerosamente rígida, criar a Assembléia Nacional, cujo o discursso era de reinvindicar e atender os interesses do povo.
Com a Assembléia Nacional, foi fundada, pela primeira vez em toda a História da França, uma república.
Os sans-culottes vão realizar uma revolta popular, que é pormovida pela burguesia em 1789, data que marca historiograficamente o início da Revolução Francesa.
A Revolução Francesa não é apenas uma revolução, são várias em uma.
Conflitos e variedades de interesses são sua marca, o que a torna tão rica.
A primeira das chamadas revoluções burguesas que ocorrem na Europa Ocidental no fim do século XVIII e no século XIX, é uma espécie de desfeicho espetacular, um ápice das marcas e crises de contradições que caracterizam a Idade Moderna. É ainda mais significativa porque ocorre na França, maior símbolo do Antigo Regime dentro de uma sociedade( tanto na época, quanto hoje historiograficamente).
O Iluminismo é apenas uma base intelectual para esta revolução(valendo frisar que esta não pode ser comparada com as revoluções do século XX, já que não havia partidos políticos liderando o movimento, e sim, um afglomerado de interesses e idéias). Os ideiais iluministas não apontam para a origem da revolução, e sim ao seu ponto de chegada. Serve como forte reforço ideológico para este fato histórico que é a Revolução francesa, originada e impulsionada por interesses de conflitos, não de ideologias.



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