Por Nilson Pereira.
Me irrita por demais esta espécie de ''síndrome de vira-lata '' latino-americana em relação a Europa.
Minha epopeia acadêmica em relação a primeira parte da História das Américas está caminhando para o fim.
Percebi que, desde as origens latino-americanas, a conquista dos europeus do Novo Mundo trouxe ramificações de muitas consequências que se avista até hoje por aqui.
No decorrer da colonização, ao subjugar Tenochtitlan e Cuzco (capitais dos respectivos Impérios Astecas e Incas) em 1520 e 1529 respectivamente, os europeus trouxeram sobre si olhares de fascínio e de desconfiança em relação a toda a população da América latina, e isto, até os dias de hoje.
Desde o início da conquista de forma mais efetiva, o rei de Espanha Carlos V de origem de dinastia dos Habsburgos, enviou homens nascidos na Europa para direcionar o rumo político e administrativo, no momento em que a coroa passou a intervir em parceria com os colonos, que eram, em sua maioria, secundogênitos de famílias nobres espanholas.
A colonização se deu de forma privada em sua ação, e de chancelaria da coroa espanhola.
Em determinado momento histórico, o bisneto de Carlos V, Filipe IV, vendeu concessões da coroa aos crioulos (espanhóis nascidos na América), e, a partir deste momento, os nascidos na América, em sua maioria miscigenados de origem biológica européia e ameríndia, passam a tomar parte nas decisões da coroa em relação as Índias de Castela.
Com a chegada da dinastia dos Bourbons em relação a coroa do Reino de Espanha, os crioulos perdem esta concessão, o que causa um grande mal estar entre coroa e estes.
No cenário das independências americanas, fica registrada no fim de cada redação das constituições, a seguinte frase:
''Juramos lealdade a Fernando VII, Rei da Espanha. ''
Alguns historiadores inclusive, se remetem a dizer que, a não atenção política e administrativa de Fernando VII em relação as nações latino-americanas que compuseram as Índias de Castela, foi uma das causas determinantes para os movimentos de independência, pois, para os crioulos, era melhor está acoplado a uma monarquia européia do que ser uma nação republicana independente.
Até hoje, há quem aqui na América Latina que tente de alguma forma, caracterizar um ''recalque histórico'' em relação a Europa.
Mesmo ao valorizar os aspectos positivos da nossa terra, estes adeptos partidários (leia-se esquerdismo latino-americano), lançam mão da Europa como padronização, ou de tentativa de sobrepor aos europeus de alguma forma.
Chegam ao ridículo de tentar remeter apenas os aspectos ameríndios para tentar traçar uma identidade latino-americana.
É lamentável este recalque histórico, fruto de uma rejeição que possivelmente nunca houve, pois o contexto géo-político das coroas ibéricas sempre foi de encarar a América como ramificação da coroa (lógico que a aproximação geográfica de Madrid, ajudou regiões como a Catalunha se manter de forma favorecida em relação a coroa). Se Fernando VII, por exemplo, priorizou a Espanha a América espanhola é por motivos óbvios de decadência econômica e estrutural da coroa.
Fato histórico, incontestável e irremediável, a América latina existe porque somos uma mistura etnológica de europeus, ameríndios e em alguns casos de africanos. Todos estes grupos são os responsáveis pela identidade de origem latino-americana.
Nenhum grupo é mais especial ou tem menos destaque que o outro.
Todos os latino-americanos têm pelo menos duas destas etnias em sua formação biológica.
Não há porque haver nenhuma incitação social ou política, assim como nenhuma teoria da conspiração idiota, nem mesmo uma tentativa de nova ordem de identidade latino-americana que o movimento esquerdista se baseia para tentar mostrar os bons aspectos de nossa terra.
Somos um povo miscigenado, e se somos o que somos, devemos e muito aos europeus, que migraram, administraram e governaram por séculos a América.
Somos frutos da Europa, política, econômica, cultural, etnologicamente e socialmente.
Querendo ou não, os europeus introduziram a América ao cenário mundial, trazendo a civilização ocidental nas veias americanas.
Não somos melhores ou piores do que os europeus, até porque na verdade, fica difícil definir o que é europeu etnologicamente hoje.
Somos descendentes diretos, como o Novo Mundo, do povo do Velho Mundo.
Isto é fato histórico e ponto.
Ass: Nilson Pereira.