Por Nilson Pereira.
Oh ''puritano''! Por muitas vezes fui assim rotulado (na maioria como tentativa de ofensa) por ser um cristão nos nossos dias, porém, apesar de ser algo considerado perjorativo pela maior parte dos que assim me chamaram, é um dos ''rótulos'' e estigmas que recebo por ser cristão protestante no qual mais me orgulho.
Os puritanos são cristãos reformados que utilizam a Teologia Calvinista como seus estilos de vida. O puritanismo existe desde do século XVI, ou seja, da origem da Reforma Protestante.
Deus já usou os puritanos para realizar muitas questões importantes na História Humana, além de tudo o que é atribuído historicamente aos protestantes (http://nopphistoriador.blogspot.com.br/2013/01/as-95-teses-que-o-espirito-santo.html), questões como a fundação dos Estados Unidos da América, onde há até mesmo um dos mais importantes feriados da nação, o ''Dia de ação de Graças'', dedicado a gratidão ao Altíssimo por conta da chegada sã destes ao território que iria se tornar os EUA, a erradicação do Tráfico Negreiro e da Escravidão negra no geral, diversos movimentos que contribuem como tentativas de erradicação da pobreza na África, América, Ásia entre outros, e claro, a salvação e anunciação do Evangelho nos quatro cantos da Terra, combate a heresias que desvirtuam cristãos ao redor da História.
Irei compartilhar aqui duas das maiores referências que tenho em minha vida como cristão, protestante e puritano, o Reverendo Augustus Nicodemus Lopes, carinhosamente chamado por mim como ''Mitodemus'' tamanha sua influência sobre cristão historiador, que em um dos seus brilhantes sermões, denominado ''Calvino e a Juventude'' (http://www.ipsantoamaro.com.br/pregacao/460-calvino-e-a-juventude.html) explica sobre o Puritanismo.
e o emblemático escritor e intelectual cristão, já falecido, C. S. Lewis, sobre uma frase reflexiva sobre o puritanismo. Deus nos abençoe.
Sobre Puritanos, Puritânicos e Neopuritanos
Por Augustus Nicodemus Lopes.
À semelhança de outros rótulos que rolam no meio evangélico,
“puritano” é um dos mais mal compreendidos e um dos que é usado mais
eficazmente para destruir a reputação de alguém.
O termo tem conotação
pejorativa hoje em dia. Um puritano é visto como alguém de moralidade falsa ou
hipócrita, e por mais que os simpatizantes dos antigos puritanos tentem passar
uma imagem positiva a respeito deles, a mancha negativa (e injusta) permanece.
Os puritanos viveram entre o século XVI e XVIII. Eram leigos e ministros
ordenados da Igreja da Inglaterra e das igrejas presbiterianas, batistas e
congregacionais.
O apelido “puritanos” foi colocado por seus inimigos, para
ironizar o ideal de pureza que defendiam. O puritanismo não era uma
denominação, mas um movimento dentro da Igreja da Inglaterra e das igrejas
independentes, que desejava maior pureza na Igreja, no estado e na sociedade.
Queriam que a Reforma, iniciada antes, fosse completa. Acusavam que a igreja
inglesa havia parado entre Roma e Genebra. Estavam insatisfeitos porque ela
havia se reformado apenas parcialmente, conservando ainda muitos elementos do
catolicismo que consideravam como contrários às Escrituras.
Os puritanos escreveram e produziram muito material
teológico. ]
Foram eles os responsáveis pela famosa Confissão de Fé de
Westminster, que até hoje é a confissão de fé de igrejas presbiterianas e
batistas reformadas. A firmeza com que defendiam suas convicções, o rigor
teológico e exegético de suas obras, o modo de vida frugal, austero e simples
que defendiam, valeu-lhes uma reputação de gente inflexível, sisuda, pudica, e
obtusa, especialmente depois que caíram em desgraça política na Inglaterra e se
desviaram para uma religião legalista e introspectiva após o período de
Cromwell, desembocando no não conformismo.
O movimento puritano foi um momento importante na história
da Igreja. Apesar de ter passado, sua teologia permanece viva nos documentos
históricos de denominações reformadas e na vasta literatura que os pastores
puritanos deixaram. Charles Spurgeon e Martyn Lloyd-Jones são considerados,
entre outros, como últimos remanescentes do que havia de melhor no puritanismo.
Em nossos dias, todavia, um interesse crescente pela teologia puritana, sua
piedade, devoção e espiritualidade tem crescido cada vez mais, não somente no
Brasil, como especialmente no exterior. Uma editora inglesa – a Banner of Truth
Trust foi a responsável pela reimpressão de obras de puritanos famosos como
John Owen, John Flavel, Jonathan Edwards. Muitas delas têm sido traduzidas e
publicas no Brasil. Além disso, autores modernos têm se colocado dentro da tradição
puritana, como J.I. Packer, R.C. Sproul, John MacArthur, entre outros.
O termo “puritânicos”, por sua vez, foi usado algumas vezes
aqui no Brasil, em 2001, na finada revista teológica Fides Reformata
semper Reformanda Est, para estigmatizar quem segue hoje a teologia puritana de
Westminster e quem se recusa a aceitar a pluralidade teológica e o inclusivismo
acrítico nas instituições de teologia reformadas. Os “puritânicos” foram também
chamados de fundamentalistas xiitas da linha de Carl McIntire. Pode-se inferir
que o termo realmente visava marcar negativamente um determinado segmento
dentro da igreja evangélica como intransigente, obscurantista, ativistas
teológicos rebeldes, etc.
O termo neopuritanos tem sido usado para designar
os adeptos da teologia puritana no Brasil que passaram a usar determinadas
doutrinas e práticas como identificadoras dos verdadeiros reformados, como o
cântico exclusivo de salmos sem instrumentos musicais no culto, o silêncio
total das mulheres no culto, a defesa do cessacionismo com base em 1Coríntios
13.8 (posição contrária à de Calvino), um entendimento e uma aplicação
estreitos do princípio regulador do culto e outros distintivos semelhantes.
Essas posições acabaram isolando os adeptos dessa linha do movimento de outros
reformados que adotavam a teologia de Westminster, mas que discordavam que os
pontos acima fizessem parte da essência da fé reformada ou mesmo do
puritanismo.
Infelizmente, a rotulação “puritânicos”, os posicionamentos
de alguns neopuritanos, a maneira agressiva com que alguns deles às vezes
defendem suas idéias, acabam sendo associados à renitente conotação pejorativa
que o nome "puritanos" já carrega. Junte-se a isso a ignorância
crassa das massas evangélicas sobre o que realmente foi o puritanismo. Ao final,
tem-se uma rejeição generalizada da teologia e da piedade puritana em nossos
dias. Digo infelizmente pois acredito que os puritanos foram teólogos de grande
envergadura, os verdadeiros intérpretes do pensamento de Calvino e um dos
poucos grupos reformado que deu ênfase ao lado experimental desse pensamento.
Lamento também porque a espiritualidade deles e sua ênfase na religião prática
seria um excelente corretivo para os que buscam espiritualidade nos místicos
católicos da idade média.
Não creio que caiba, na realidade multi-cultural brasileira
do século XXI, o transplante do puritanismo da Escócia e da Inglaterra dos
séculos XVI e XVII com todos os seus detalhes, alguns com um contexto histórico
muito marcante. Mas, acredito que se possa resgatar, com os devidos cuidados,
sua teologia e sua piedade, se todos os que amam a teologia de Westminster e
das outras confissões igualmente influenciadas pelo puritanismo, deixassem de
lado as idiossincrasias puritanas dos séculos passados e se concentrassem
naquilo que é central no puritanismo: a busca da pureza individual, do culto,
na família, na sociedade, na igreja e no estado. Talvez ainda haja esperança
para que a teologia puritana sobreviva dentro das igrejas que são
historicamente suas herdeiras, e não somente entre os irmãos pentecostais, que
mais e mais estão descobrindo e abraçando Matthew Henry, John Gill, John Owen,
Jonathan Edwards, C. H. Spurgeon, J. I. Packer, D-M. Lloyd-Jones e John
MacArthur.
Terminando, cito um parágrafo do C. S Lewis sobre os puritanos,
que me foi enviado pelo Franklin Ferreira. Gosto de pensar neles dessa forma:
Devemos imaginar estes Puritanos como o extremo oposto
daqueles que se dizem puritanos hoje, imaginemo-los jovens, intensamente
fortes, intelectuais, progressistas, muito atuais. Eles não eram avessos à
bebidas com álcool; mesmo à cerveja, mas os bispos eram a sua aversão’.
Puritanos fumavam (na época não sabiam dos efeitos danosos do fumo), bebiam
(com moderação), caçavam, praticavam esportes, usavam roupas coloridas, faziam
amor com suas esposas, tudo isto para a glória de Deus, o qual os colocou em
posição de liberdade. (...) [Os primeiros puritanos eram] jovens, vorazes,
intelectuais progressistas, muito elegantes e atualizados ... [e] ... não havia
animosidade entre os puritanos e humanistas. Eles eram freqüentemente as mesmas
pessoas, e quase sempre o mesmo tipo de pessoa: os jovens no Movimento, os
impacientes progressistas exigindo uma “limpeza purificadora” (C. S.
Lewis).