Por Nilson Pereira.
Quando isto viu o fariseu que o tinha convidado, falava consigo, dizendo: Se este fora profeta, bem saberia quem e qual é a mulher que lhe tocou, pois é uma pecadora. E respondendo, Jesus disse-lhe: Simão, uma coisa tenho a dizer-te. E ele disse: Dize-a, Mestre. Um certo credor tinha dois devedores: um devia-lhe quinhentos dinheiros, e outro cinqüenta. E, não tendo eles com que pagar, perdoou-lhes a ambos. Dize, pois, qual deles o amará mais? E Simão, respondendo, disse: Tenho para mim que é aquele a quem mais perdoou. E ele lhe disse: Julgaste bem. E, voltando-se para a mulher, disse a Simão: Vês tu esta mulher? Entrei em tua casa, e não me deste água para os pés; mas esta regou-me os pés com lágrimas, e os enxugou com os cabelos de sua cabeça. Não me deste ósculo, mas esta, desde que entrou, não tem cessado de me beijar os pés. Não me ungiste a cabeça com óleo, mas esta ungiu-me os pés com ungüento. Por isso te digo que os seus muitos pecados lhe são perdoados, porque muito amou; mas aquele a quem pouco é perdoado pouco ama. E disse-lhe a ela: Os teus pecados te são perdoados. Lucas 7:39-48
Por Nilson Pereira.
Por anos eu meditei neste texto. Por anos (e te digo caro leitor, antes mesmo de me converter) reflito sobre o que este trecho das Escrituras realmente quer dizer.
Hoje, depois de um tempo de caminhada cristã tenho minhas impressões, que provavelmente irão amadurecer mais depois de algum tempo. Como cristãos reformados cremos na Inerrância das Escrituras, onde o Cânone Bíblico jamais se contraria.
A Escritura narra a saga do povo hebreu, que mesmo vendo cair pão do céu, mesmo tendo suas roupas intactas por 40 anos e tantos outros milagres (talvez que nenhuma outra geração do povo de Deus tenha visto até) ainda se voltava contra o Senhor, conforme o livro de Êxodo narra. Conta a história de tantos homens que mesmo depois de aliançados com Deus fizeram coisas inexplicáveis, homens como Abraão, Davi, Pedro, João e etc. A Escritura não narra só a história deles, mas a minha e a sua também. Pare para pensar, seja franco com você mesmo, quantas vezes você fez coisas impensáveis para um cristão depois de ter sido escolhido por Jesus como Seu discípulo de forma oficial? Pois é, isto me choca sempre quando olho para minha vida também.
Na caminhada cristã não há espaços para ninguém especial, e isso vai de choque com a cultura pós-moderna do individualismo, onde todos devem se sentir únicos, lindos, ‘’lacradores’’, admiráveis. Fracamente, se não fosse claramente o que Jesus trabalhou em mim ou em você o que teríamos de especial? Somos todos ex-idólatras, ex-fornicadores, ex-drogados, ex-alguma coisa, e por mais que alguns ímpios usem este argumento contra nós, é o caso de darmos graças constantemente ao Senhor por sermos ex, e não atuais. Uma das coisas que Jesus mais fez aqui na Terra foi repreender os fariseus, este texto de destaque é um dos vários casos citados, tendo seu auge na Parábola do Fariseu e do Publicano (Lucas 18:9-14), onde o Senhor chega a afirmar que a oração arrependida e contrita de um homem traidor de sua pátria vale mais que a oração altiva e egocêntrica de um mestre da lei zeloso.
Não é o que você ocupa ou faz que te define em Jesus, nem mesmo é o que você é no sentido do que pode fazer no Reino, é o que Jesus é em você. É o que o Senhor te torna na sua vida Nele, e SEMPRE não iremos passar de um pecador resgatado IMERECIDAMENTE por Ele, servos inúteis que faz só a obrigação. Isto nunca mudará na minha ou na sua vida. Entre os 12 primeiros de nós haviam 11 crentes de verdade, e um ímpio, mas todos eram apóstolos, isto indica que sempre haverá isto, pessoas importantes no Reino, mas que nunca se quer se converteram de verdade. Não importa o que você foi ou é, o que importa é ser realmente um santo (um separado somente por Jesus).
Foi assim no Antigo e é no Novo Testamento. Ninguém é bom, todos pecaram, não existe o publicano imundo e o fariseu santo, todos nós somos imundos diante de Deus. Sei que ‘’imundo’’ é uma palavra forte, mas acredite, é a palavra que melhor define tudo. Romanos capítulo 3 é um dos textos mais importantes das Escrituras (Martyn Lloyd-Jones costuma dizer que ele era o auge da Bíblia) , um dos mais importantes da minha vida, o tipo de texto que gravei em um dos meus anéis para nunca esquecer ( pois entre o fariseu e o publicano, diversas vezes eu tendo mais a ser um legalista), o quanto sou inútil diante de Deus, e quando faço alguma coisa, é só por misericórdia Dele.
Nunca podemos esquecer que somos membros de uma raça caída, e somos seres caídos desde o nascimento. Isto é terrível não é? É terrível pensar que você não é exatamente o virtuoso homem que sempre pensou que fosse, ou a modesta menina que tanto se orgulha de ser. Eu sei bem como é isso. Todos os dias minha ficha cai, mas sabem o que traz esperança para nós? Este texto que postei. Quando nós nos achamos como realmente somos, pecadores, e nos arrependemos disto, Deus nos ama como nunca antes. ‘’Aquele que muito é perdoado, muito é amado’’. É por isso que frequentemente aquele irmão que tem um passado forte é um crente mais bíblico e fervoroso do que o outro que foi criado numa família cristã. Não é porque um foi pecador imundo e o outro santo desde que nasceu, é porque o que viveu mais coisas terríveis se entende em Cristo, se arrepende, vive contrito e quebrantado muito mais do que o que tende a agir como os fariseus porque viveu ouvindo a Palavra a vida quase toda. Tudo o que o homem com o passado forte faz ele entende que é só porque Jesus é forte nele. É a única coisa que difere o publicano do fariseu, ou os fariseus da mulher citada no texto por Jesus: a rendição, a consciência diante de Deus. Ambos são pecadores de destituídos da Glória de Deus estavam.
Não é o passado x ou y que importa, o que importa é sua relação com Jesus quanto a isto. Nós hierarquizamos pecados, Deus não. Pecadores estão longe Dele, a não ser que estejam em Cristo, tenham uma vida contrita e quebrantada, uma vida piedosa que prega a Escritura da forma correta, onde Jesus é o protagonista e todo o resto não importa. Se formos analisar a vida de homens de Deus como os que a Bíblia relatam, os reformadores, os pais apostólicos, ou um Augustus Nicodemus, Paul Washer da vida, verificaremos histórias lindas, com pecados terríveis, mas com uma linda história de rendição diante de Jesus.
O problema do fariseu não era ser um mestre da Lei, era idolatrar o próprio ego ao invés de adorar a Deus por ser usado por Ele. O mérito do publicano, ou da mulher, não era ser um cobrador de impostos ou mulher pecadora, é reconhecer que só são alguma coisa por entenderem que nada são por eles, e sim em Jesus. Pense nisto. Toda história cristã verdadeira é dotada por um passado pecador e um presente de quebrantamento, e assim, um futuro glorioso com Jesus.
Que nós cristãos paremos de imitar Adão, cujo o ego de ser igual a Deus falou mais alto e passemos a imitar somente Jesus, que abriu mão da Sua Glória para se fazer homem. Nem eu nem você somos nada, nunca fomos e nunca seremos. Somos apenas servos inúteis que cumprimos nosso papel em Jesus. Glória a Deus por isso. Seja nada todo homem e tudo o Senhor Jesus Cristo, nosso Rei e Deus.