Por Nilson Pereira.
Primeiramente quero deixar claro que mantive o título original do filme porque detesto a tradução do mesmo em português. Mesmo o diretor, Rian Johnson, já declarou que a idéia do ''last'' é de '' o último'', nã ''os ''últimos'', conforme optaram traduzir. Feito esta parêntese, gostaria de expor algumas coisas sobre o filme. Para mim, junto com o longa de Darren Aronosfky, ''Mãe'' e ''Logan'' ( que merecem uma análise também), este filme foi o que mais mexeu comigo em 2017, que foi um ano muito bom na Sétima Arte.
Como todo garoto nascido na década de 1980, eu cresci fã de Star Wars, me decepcionei com os episódios 1, 2 e 3, me animei com o 7, me emocionei com Rogue One ( eu sempre amei os rebeldes na saga, sobretudo os que usam a força sem ser Jedi ou Sith), me reogizijei com Star Wars Rebels. Mas ''The last jedi'' me causou outra sensação, algo inédito, estranho e sensacional! O filme tem seus erros, o arco do Finn, que é um personagem excelente, foi praticamente inútil, por exemplo, não os nego, mas também não quero fazer aqui uma crítica cinematográfica.
O episódio 8 da franquia segue em algo que achei excepcional no episódio 7, o fato de ser um filme inclusivo (temos mulheres protagonistas, negros, latinos, e agora asiáticos) sem ser chato ou forçado. Na trama, pouco importa a cor ou gênero dos personagens, é algo natural termos a inclusão, como tudo deve ser sempre. Isto é um acerto genial dos produtores. E ele lapida este conceito ainda mais. A origem da Rey e todo o discurso do Luke em relação a crítica a um dos ídolos do nosso tempo '' o se sentir especial''é brilhante, e totalmente Eclesiastes. Quando ele se tornou uma lenda, fracassou. Uma lição mais do que preciosa para nós, uma lição de vida. Ter fama não é tudo, não importa tanto se te acham ou não especial, o que importa é ser especial de fato. O ``ter`` não é mais importante do que o ``ser``.
A origem da Rey é tudo o que queria, quebrando a dinastia Skywalker da franquia, e pondo a Força como algo maior que laços de uma única Família, pondo uma pessoa qualquer, filha de sucateiros que a trocaram por bebida, como protagonista, esperança maior de toda a Galáxia. Isto é brilhante, e faz com que os telespectadores se identifiquem muito mais com ela, afinal, a minha grande crítica a muitos super heróis, sobretudo da DC Comics, sempre foi essa, a de serem seres tão excepcionais que não identificação. A vida não é feita de pessoas excepcionais, é feita de pessoas comuns. E o que esta nova geração de filmes de Star Wars ensina é exatamente isto, qualquer um pode ser um herói, ou um vilão. E eu entendo que este é o principal papel da Cultura Pop, incluir, entreter e nos fazer refletir sobre a vida, sem ser chato.
Kylo Ren também entrou na hall de bons vilões ao meu ver, pois a morte do Snoke vai fazer com ele cresça ainda mais sim. Os conflitos dele o tornam um personagem único na franquia, para mim não o diminuem, o torna mais particular. Ao contrário do seu avô, ele é o típico garato mimado e mal criado que, ao tentar buscar seu lugar ao Sol, acaba por fazer tudo errado. Um retrato social da presente geração.
Luke ganhou ainda mais meu respeito ao se tornar um mestre Jedi de fato. Mesmo inseguro, ranzinza muitas vezes, amargurado, como muitos ao chegar a meia idade se tornam por não lidarem bem com os conflitos na vida, ele amadureceu neste filme, sobretudo depois de conversar com o saudoso Yoda, que sempre é espetacular nas incursões na saga. No fim do filme, é clara a mudança de Luke, e o retrato dele mesmo conseguindo superar seu fracasso como mentor. É uma história linda de superação em pontos muito cruciais na vida de um homem, quando este se torna um mentor de vidas. Impossível eu não me identificar e me sentir tocado.
Ver Leia neste filme é emocionanete, não só por causa da morte de Carrie Fisher, mas por conta da evolução da personagem. Todo o arco dela com o Poe Dameron é bem interessante, a forma com que ela o corrige, a lição de que um homem talentoso sozinho não é melhor que um talento que age em prol do coletivo. Leia se tornou uma mentora também, e é legal ver isto tendo mais destaque.
Para mim, ''The Last Jedi'' é o segundo melhor filme de toda a franquia, é um filme ousado, profundo, que faz um telespectador atento pensar na vida, não só aplica as bobeiras habituais dos blockbusters de hoje em dia. Um filme digno de ''Batman, o cavaleiro das trevas'', ou ''Logan'', filmes que ultrapassam o fato de serem apenas blockbusters, que trazem lições importantes também.
Recomendo que você invista duas e meia de sua vida e vá so cinema mais próximo assistir o filme do ano. Não só para ver naves e aliens, mas para se identificar com personagens humanos e carismáticos.
Deus abençoe.