Por Nilson Pereira.
Tenho muitos motivos por ter uma belo horizontina escolhida pelo Deus Altíssimo para preencher meu coração. Sou bastante carioca para me apegar facilmente por qualquer outra cidade do mundo, porém, aprendi mais um fator que deve ser ressaltado sobre minha admiração a cidade de Belo Horizonte, minha simpatia pelo futebol, não apenas como esporte, mais principalmente como fato histórico e instrumento sócio-antropológico de definição social.
Conforme era minha vontade antes mesmo desta minha última viagem, acompanhei o clássico mineiro em BH, pela segunda vez, mas pela primeira vez em um jogo que teoricamente não valia nada, concentrado para averiguar o historicismo deste.
Eu como carioca, de uma forma direta, fiquei impressionado, pois a rivalidade entre Atlético e Cruzeiro é sim maior do que qualquer outra daqui.
Vi cruzeirenses revoltados, mal humorados, como se o resultado de 2 a 0 a favor do Atlético ainda no primeiro tempo valesse a perda de um título relevante, e vi atleticanos chorando como se tivessem perdido o título, em um jogo que de nada valia.
E nada realmente valia... Eu, acostumado com clássicos entediantes, pelo menos neste ano (logicamente quando não são decisivos), clássicos jogados com preguiça, com a intenção periférica de cumprir tabela, clássicos que, para mim, como flamenguista que sou, deveriam ter esta denominação contestada. Até porque no Rio, o Flamengo é rival de todos, mas não é rival de ninguém há pelo menos 10 anos.
Não estou aqui desmerecendo jamais um'' Nelson Rodriguiano'' Fla-Flu, ou um ''milionário'' Fla-Vas, ou mesmo um ''chorático'' Fla-Bota, nem o centenário ''Vovô'', porém, não posso deixar meu etnocentrismo falar mais alto, e dotado de austeridade, declarar que o clássico belo -horizontino é, historicamente mais ''clássico'' que os daqui do meu Rio amado.
Não estou de forma alguma desmerecendo clássicos cariocas ou paulistas, apenas constatando um fato historicista, social e antropológico sobre a relação futebol/clássico/belo-horizontinos.
Eu, como carioca, da gema, que moro desde o nascimento no Rio, posso dizer com propriedade, que não há rivalidade comparável na minha terra com a dos belo-horizontinos, talvez, por uma série de fatores, como o fato de aqui haver 4 times de evidência histórica, e não dois como lá, talvez porque o futebol esboça uma reação maior em BH do que aqui, cidade mais cosmopolita e muito mais plural no que diz respeito ao entretenimento. Não irei fazer mais comparações entre BH e São Paulo no que diz ao futebol, pois como bom historiador, prefiro relatar daquilo que sei com propriedade, o que não é o caso da minha relação com os paulistas neste assunto, uma vez que há certa distância nesta relação, sabendo eu apenas dos fatos que são relatados pela imprensa.
Jamais tenho a intenção de tentar desmerecer os clássicos cariocas, ou os paulistas. Os confrontos entre os times daqui e os de São Paulo, são sem sombra de dúvidas mais dotados de historicismo, devido a comoção nacional destes, do destaque de público e mídia, ou da importância das competições que estes comunmente acontecem (como finais de Brasileiros, ou jogos importantes destes, finais de Copa do Brasil, jogos decisivos de Libertadores e etc), fato que o clássico mineiro ainda não conseguiu alcançar de forma plena neste centenário confronto.
O que vale ressaltar neste simples texto-relato é que, em BH, este clássico mais que futebol, é um fator de divisão urbano, pois passeando por Belo Horizonte nos momentos antecedentes ao clássico da terra do pão de queijo, percebe-se claramente uma cidade divida, nos mercados, lojas, shoppings, ônibus, casas, ou em qualquer outro segmento social, dos mais sérios aos mais gaiatos. Vi até seguranças, antes do clássico, carrancudos e com postura militar, se render a sorrisos e provocações rivais.
Sem dúvida, o clássico entre Atlético x Cruzeiro, é um ponto turístico, e um espetáculo a parte na História e vida metropolitana de Belo Horizonte. Eu não tive a oportunidade de visualizá-lo no palco mais nobre deste confronto, o segundo maior e mais importante Estádio da História deste país: o Mineirão, mas mesmo isto, não tira o charme e o fato de ser tão interessante acompanhar a comoção deste jogo fomentado por alguns dos maiores jogadores de todos os tempos no futebol, como Tostão e Reinaldo por exemplo.
Ainda não tive o prazer de assistir em Porto Alegre, aquele que muitos dizem ser a maior rivalidade da História do país, GreNal, porém, assistindo a Galo x Raposa de BH, fica difícil acreditar no que estes alguns dizem, ao mesmo tempo que fica ainda mais interessante ir a capital do Rio Grande em um jogo de importância entre a metade azul e a vermelha do extremo sul brasileiro, porém, a falta de importância e a comoção mesmo com ela, do clássico que assisti em BH, fomentado por todo um clima do currículo infinitamente mais vitorioso do Cruzeiro, da predileção evidente da mídia mineira pelo Atlético, pelos últimos e históricos confrontos entre os dois, eu mais uma vez deixo claro ser difícil alguma rivalidade ser mais forte do que a entre os dois principais clubes das Minas Gerais.
PS: Analisei o clássico com bastante alteridade, já que não torço para nenhum dos dois, e esta coisa de ser historiador (logo cientista social) é viciante e estilo de vida, acaba-se sendo profissional e menos passional até nisso, haushsauahsuahas.
Analisei os 4 cantos de BH, pois no início do clássico estava na rua.