Por Nilson Pereira.
Somos uma nação que historicamente foi colonizada pelos portugueses. Mesmo levando em conta o verdadeiro ''caldeirão'' étnico e cultural que a América em um todo é, e inegável que, historicamente, a influência portuguesa na cultura brasileira é a mais difundida, sobretudo nas questões ligadas ao Cristianismo.
Por
séculos a Igreja Católica ligada a coroa portuguesa era a única a versar sobre
toda a questão
cristã no território da antiga América lusitana que se tornaria o Brasil,
portanto, é impossível versar sobre a adaptação que o Evangelho promove a
cultura daqui sem olhar antes para os portugueses e
historicizá-los. Portugal é uma nação que etnologicamente tem origem na
fusão de várias outras etnias, romanos, que na Antiguidade povoaram fortemente
a Península Ibérica, e os mouros, povo árabe e muçulmano que ocupa o
território citado durante a Idade Média, estão entre eles. O catolicismo
português, corrente teológica que domina o imaginário brasileiro pelo menos até
o século XIX, e que é muito forte em influência até os dias de hoje, sofreu
sensível e considerável influência do Islamismo trazido a Portugal pelos
mouros.
A visão de Deus dentro do catolicismo tradicional propagado aqui no Brasil é uma visão de punidor, de juízo, de ira. Semelhante a visão dos mouros, povo de origem árabe que migrou numa escala grandiosa a Portugal na Idade Média, um povo muçulmano. Estas duas visões tradicionalistas trazidas pelos portugueses, não tem ligação ao Deus que a Bíblia relata, sobretudo na figura de Cristo. Um deus de misericórdia apenas aos que cumprem fielmente as doutrinas e metodologias foi um deus útil a Igreja Romana, durante toda a Idade Média e Idade Moderna. Para ressaltar tal imaginário, faltava a criação de algum tipo de ''vilão'', o sexo foi um dos escolhidos para tal. Diante de uma sociedade que vinha de uma Antiguidade Clássica, onde o pudor sexual praticamente não existia nas práticas greco-romanas, ao ponto dos apóstolos demonstrarem claramente que os cristãos deveriam se abster da imoralidade por diversos textos bíblicos, nada mais viria a calhar melhor do que punir o sexo totalmente, limitando-o a procriação, indo de um extremo ao outro. A prática romana era de proibir o acesso as Escrituras Sagradas da grande massa, restringindo a ordem dos oratores e bellatores, nobres e clérigos medievais.
Textos como Sl 51:5, onde Davi fala que foi concebido em
pecado ( porém, claramente não está falando da questão sexual, e sim da
natureza humana que herdamos com o pecado de Adão e Eva), ou o conselho do
apóstolo Paulo aos coríntios em I CO 7 de não se casarem,( por razões sociais e
históricas da maior perseguição que o mundo já viu aos cristãos no governo de
Nero em Roma, logo não era recomendável casar e ter filhos naquelas condições,
uma vez que Paulo era fariseu antes de se converter, portanto, dentro da
cultura judáica, provavelmente foi casado), foram deturpados para trazer medo
na relação povo/Deus e obter o controle de diversas questões sociais da época,
como a herança e outras.
Até a Reforma protestante efetivada por Lutero, as missas eram feitas em latim, e a Bíblia era escrita na mesma língua, e de dificílimo acesso, como pela graça do Altíssimo vivemos no pós-Reforma, onde o Deus Altíssimo usou homens como Martinho Lutero e João Calvino para iniciar o processo constante de traduzir o cânone das Escrituras em todas as línguas, analisaremos o sexo a luz bíblica, a Palavra de Deus.
Biblicamente, o sexo é visto como um dos maiores presentes de Deus para a humanidade. Textos como o capítulo 6 da carta do apóstolo Paulo aos efésios, o livro de Gênesis, e todo um livro canônico voltado para o amor conjugal, como é o de Cantares, dentre outros, demonstram o quanto o sexo é espiritual, é emocional, é físico. A Bíblia demonstra que o sexo é uma ligação espiritual, a mais íntima que há entre duas pessoas, sendo o ápice de uma linda história de amor conduzida por Deus.
A única possibilidade de pecado que a Bíblia relata para que um cristão ''corra'', é a possibilidade de imoralidade sexual, exatamente porque o desejo sexual não deve ser extirpado dos seres humanos, deve ser apenas controlado, ao contrário da ira excessiva, da vingança, da inveja e demais sentimentos negativistas que o homem é capaz de sentir. A Bíblia é enfática ao demonstrar que Deus não criou o sexo apenas para procriação, mas para ser o maior tempero de um relacionamento monogâmico, abençoado por Ele, e que forme a relação social mais amada por Deus na História: a família.
Minha experiência com ensino e como discípulo de Jesus me permite perceber o quanto os cristãos no Brasil são equivocados no assunto sexo, se deixam limitar por homens que dão sequência ao catolicismo tradicional e punem o sexo, limitando um dos maiores bens que Deus deu ao ser humano. Vejo meninas dizendo ter ''nojo'' de sexo, vejo homens sendo controlados pelos seus impulsos sexuais ao invés do contrário, e vice versa. A Cristandade brasileira ainda é muito influenciada pelo catolicismo barroco e colonial português, o que gera aberrações teológicas como um ensino que leva a casais a terem vergonha de nutrir desejo sexual entre si, já que supostamente o desejo sexual seria fruto da Total Depravação humana, e não de um desejo natural e saudável (se, claro, estiver dentro do conceito bíblico de sexo, vale frisar) criado por Deus em nós, ou o outro extremo disto, gente que não consegue controlar-se e que tenta seduzir os irmãos dentro da Igreja. O cristão brasileiro, via de regra, não sabe lidar com o sexo de forma bíblica.
O sexo matrimonial é um dos pontos mais valiosos nas Escrituras, ao ponto de existir todo um livro canônico, Cantares, sobre o tema e como alegoria da relação Deus/Povo, de textos como o de Gênesis 2:24 e do belíssimo capítulo de Efésios 5, onde Paulo dizer que o corpo do homem pertencem a mulher, e vice versa, e ambos pertencem ao Senhor.
O que é de fato bíblico é que sentir vontade sexual é de Deus, perder o controle dela é pecado. Fazer sexo é muito de Deus, viver abrasado e fazer antes de firma um compromisso ad eternum com um indivíduo de sexo oposto é pecado. Sexo feito dentro das leis de Deus, dentro de um compromisso instituído aumenta a intimidade, aumenta a espiritualidade. Ter uma sexualidade saudável é fundamental para qualquer Cristianismo.Devemos sim tomar cuidado com a sensualidade, que é exatamente a deturpação, ou o descontrole da sexualidade.
Chega de brasileiros cristãos se punindo por conta das questões envolvendo o sexo. O sentimento de culpa evoca o pecado, traz o erro. Que possamos viver uma sexualidade saudável a luz das Escrituras, onde, ou você está remido definitivamente em Cristo em relação ao seu passado, ou você está gozando do melhor em um relacionamento sexual bíblico e abençoado por Deus.
O casamento cristão é muito mais do que sexo, é a mais bela unidade básica da formação de um povo que serve ao Senhor, basta entender que Ele o criou antes de Israel e da Igreja, porém, o sexo feito dentro do casamento e abençoado por Deus é um presente único e especial dado pelo Criador a Seus seguidores.
Dentro de um casamento cristão a carga de culpa, muitas vezes ocorrida por conta desta herança teológica deturpada advinda de um Cristianismo barroco, deve ser cessada de uma vez, pois é um dos mais importantes princípios bíblicos de que em Cristo são renovada todas as coisas (2 Co 5:16-18). Não há porque, em um relacionamento genuinamente cristão e baseado na Bíblia, haver alguma das partes que se considere mais puro ou mais santo nesta área que a outra, ou mesmo na mente de um solteiro redimido em Cristo, pois Jesus renova todas as nossas áreas, em outras palavras, em Cristo, todos somos puros sexualmente de novo. Não é a virgindade ou a lascívia de outrora que conta, e sim o nosso estado atual, de remidos em Cristo Jesus.
Deus nos abençoe.
PS: Recomendo a leitura de 3 livros:
Qual a diferença? Masculinidade e Feminilidade de acordo com a Bíblia - de John Piper e publicado pela editora Tempo de Colheita.
Casamento Temporário - de John Piper e publicando aqui pela editora Mundo Cristão.
O Significado do Casamento - de Timothy Keller e esposa, publicado pela editora Vida Nova.